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Fundação CARF

31 julho, 20

A origem do sacerdócio cristão

Ninguém é sacerdote por direito próprio, mas partilha do sacerdócio de Cristo.

Como é que se explica que Jesus nunca se tenha referido a si próprio como "Sacerdote"?

O padre é, antes de mais, um mediador entre Deus e a humanidade. Alguém que torna Deus presente entre as pessoas, e ao mesmo tempo, alguém que traz as necessidades de todos perante Deus e intercede por eles. Jesusque é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, é o sacerdote mais autêntico.

No entanto, conhecendo o rumo que o sacerdócio israelita tinha tomado no seu tempo, limitado à realização de cerimónias de sacrifício de animais no Templo, mas com o coração geralmente mais atento às intrigas políticas e à ânsia de poder pessoal, não é de estranhar que Jesus nunca se tenha apresentado como sacerdote.

O seu não era um sacerdócio como o que se vê nos sacerdotes do Templo em Jerusalém. Além disso, para os seus contemporâneos parecia óbvio que ele não o era, pois de acordo com a Lei o sacerdócio era reservado aos membros da tribo de Levi e Jesus era da tribo de Judá.

A sua figura era muito mais próxima da dos antigos profetas, que pregavam a Fidelidade a Deus (e, nalguns casos, como Elias e Eliseu, realizava milagres) ou, sobretudo, a figura dos mestres itinerantes que percorriam as cidades e aldeias rodeados de um grupo de discípulos a quem ensinavam e de cujas sessões de instrução permitiam que as pessoas se aproximassem. De facto, os Evangelhos reflectem que, quando as pessoas falavam com Jesus, dirigiam-se a ele como "Rabi" ou "Mestre".

Os primeiros padres opus dei 1

Ordenação dos primeiros sacerdotes do Opus Dei: José María Hernández Garnica, Álvaro del Portillo e José Luis Múzquiz

Mas será que Jesus desempenhou devidamente as tarefas sacerdotais?

É claro que sim. É próprio do sacerdote aproximar Deus do povo e, ao mesmo tempo, oferecer sacrifícios em favor dos homens. A proximidade de Jesus à humanidade necessitada de salvação e a sua intercessão para que possamos alcançar a misericórdia de Deus culminam no sacrifício da Cruz.

É precisamente aqui que surge um novo choque com a prática do sacerdócio da época. A crucificação não podia ser considerada por esses homens como uma oferta sacerdotal, mas antes pelo contrário. O que era essencial para o sacrifício não era o sofrimento da vítima, nem a sua própria morte, mas a realização de um rito no Templo de Jerusalém, nas condições estabelecidas.

A morte de Jesus foi apresentada aos seus olhos de uma forma muito diferente: como a execução de um condenado à morte, efectuada fora dos muros de Jerusalém, e que, em vez de atrair a benevolência divina, foi considerada - tirando do contexto um texto do Deuteronómio (Dt 21,23) - como objeto de uma maldição.

Começámos a falar de "sacerdotes" já no início da Igreja?

Nos momentos que se seguiram à Ressurreição e Ascensão de Jesus ao céu, após a vinda do Espírito Santo no Pentecostes, os Apóstolos começaram a pregar e, com o passar do tempo, começaram a associar colaboradores à sua tarefa. Mas se o próprio Jesus Cristo nunca se tinha designado sacerdote, era lógico que tal designação nem sequer ocorresse aos seus discípulos para falarem de si próprios naqueles primeiros tempos.

Na verdade, o tarefas As funções que desempenhavam tinham pouco a ver com as dos padres judeus no Templo. Por esta razão eles usaram outros nomes que mais descritivamente designaram as suas funções nas primeiras comunidades cristãs: apóstolos que significam "enviado", epíscopos que significam "inspector", presbýteros "ancião" ou diákonos "servo, ajudante", entre outros.

No entanto, quando reflectimos e explicamos as tarefas destes "ministros" que são os Apóstolos ou que eles próprios instituíram, apercebemo-nos de que se trata de funções verdadeiramente sacerdotais, embora com um significado diferente do que tinha sido caraterístico do sacerdócio israelita.

O que é este "Novo Sentido" do Sacerdócio Cristão?

Este "novo sentido" já pode ser visto, por exemplo, quando S. Paulo fala das suas próprias tarefas ao serviço da Igreja. Nas suas cartas, ao descrever o seu ministério, utiliza um vocabulário claramente sacerdotal, mas não se refere a um sacerdócio com personalidade própria, mas a uma participação no Sumo Sacerdócio de Jesus Cristo.

Neste sentido, São Paulo não pretende assemelhar-se aos sacerdotes da Antiga Aliança, pois a sua tarefa não é queimar no fogo do altar o cadáver de um animal para o retirar - "santificando-o" no seu sentido ritual - deste mundo, mas "santificar" - noutro sentido, ajudando-os a alcançar a "perfeição", introduzindo-os no reino de Deus - homens vivos com o fogo do Espírito Santo, aceso nos seus corações pela pregação do Evangelho.

Da mesma forma, ao escrever aos Coríntios, São Paulo observa que ele perdoou pecados não em nome deles, mas em nome dos Coríntios. in persona Christi (cf. 2 Cor 2:10). Não é uma simples representação ou uma actuação "no lugar de" Jesus, uma vez que é o próprio Cristo que actua com e através dos seus ministros.

Pode-se, portanto, afirmar que na Igreja primitiva existem ministros cujo ministério tem um carácter verdadeiramente sacerdotal, que desempenham várias tarefas ao serviço das comunidades cristãs, mas com um elemento comum decisivo: nenhum deles é "sacerdote" por direito próprio - e, portanto, não goza de autonomia para exercer um "sacerdócio" próprio, com o seu cunho pessoal - mas sim participar no sacerdócio de Cristo.

Sr. Francisco Varo Pineda
Director de Pesquisa
Universidade de Navarra
Faculdade de Teologia
Professor da Sagrada Escritura

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