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15 julho, 25

Um jovem sorridente, de camisa azul clara, Sthabiso, da África do Sul, levanta o polegar ao ar livre. É um seminarista apoiado pela Fundação CARF, seguindo a sua vocação sacerdotal.

Uma vocação para regressar ao coração da África do Sul

Sthabiso Zibani é um seminarista da diocese de Eshowe (África do Sul) que tem 25 anos e carrega dentro de si uma história tecida de coragem, fé e amor sacrificial. Uma vocação sacerdotal que deixa tudo por amor.

Hoje falamos-lhe da vocação sacerdotal do seminarista Sthabiso Zibani na África do Sul, que se esforça por renovar a fé na sua diocese, apesar das feridas do passado.

É o quarto de cinco irmãos e filho de dois professores de economia do liceu. Os seus pais formaram uma família em que a fé católica se impôs primeiro pelo lado da sua mãe e foi mais tarde abraçada pelo seu pai, anos depois do casamento.

A vocação do seminarista Sthabiso como futuro padre cresceu num lar enraizado no Evangelho e na cultura Zulu, onde a vida girava em torno de três pilares: casa, escola e igreja.

"O nosso pai converteu-se tardiamente, mas o seu testemunho deixou-me uma profunda impressão. Crescemos numa família tipicamente católica e zulu: amor e respeito por Deus, uns pelos outros e pelos estrangeiros, que considerávamos nossos vizinhos.

Entre sonhos e renúncias: o despertar de uma vocação sacerdotal

Os seus pais encorajaram-no, a ele e aos irmãos, a explorar os seus talentos, e rapidamente se tornou uma criança inquieta e curiosa: experimentou futebol, críquete, clubes de debate, coro... E, como qualquer jovem da sua idade, também experimentou um amor secreto. "Uma namorada de que os meus pais nunca souberam", confessa com um sorriso tímido. Mas dentro de si, desde muito jovem, ardia uma pergunta que não conseguia calar: o chamamento para ser padre.

"Eu sabia que não me casaria com a rapariga que amava profundamente. Por isso, libertei a minha namorada e respondi à chamada. Confiei em Cristo para me dar a força de amar radicalmente, para além dos interesses românticos e das ambições profissionais", conta.

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Uma recordação dos pais de Sthabiso no dia do seu casamento.

A sua decisão não foi fácil: para responder à sua vocação, abandonou os seus estudos de engenharia, o seu conforto e tudo o que conhecia, para abraçar um caminho que ninguém na sua família tinha percorrido antes.

Vocação: um caminho guiado pelo amor e pela fé

Quando fala da sua vocação sacerdotal, Sthabiso baixa um pouco a voz. Reconhece que o seu discernimento foi inspirado por muitas pessoas, mas em primeiro lugar pela sua família, e especialmente pelo seu pai: "Na minha família, aprendi e observei o amor paternal que recebemos. Muitos ficariam surpreendidos se soubessem que o meu próprio pai é uma inspiração para a vida sacerdotal. Embora não seja sacerdote, vejo nele a virtude sacerdotal do sacrifício de si mesmo, mesmo agora, na aurora da velhice".

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Sthabiso visita a casa dos pastorinhos em Fátima.

Depois do seu pai, foram os seus párocos que o ajudaram a descobrir a vontade de Deus na sua vida. Mas, acima de tudo, Cristo: "o Bom Pastor vê a ovelha coxa que eu sou e vem buscar-me. Pega em mim e carrega-me aos seus ombros. É por causa dele que quero ser padre: para que mais ovelhas coxas possam encontrar refúgio nesses mesmos ombros".

A Diocese de Eshowe aceitou o seu pedido e tem-no acompanhado desde então. Passou um ano na Casa de Formação de Santo Ambrósio para aspirantes na Arquidiocese de Durban e outro ano no Seminário de Orientação de São Francisco Xavier.

Após este período de formação na África do Sul, Sthabiso foi admitido na Seminário internacional Bidasoa (Pamplona), onde hoje continua a sua aventura rumo ao sacerdócio, caminhando com um passo sereno e constante.

O contraste cultural foi enorme, e a língua espanhola continua a ser-lhe difícil: "durante as aulas e as homilias, às vezes perco-me. Mas devo a Deus o facto de ter chegado até aqui", diz, sem se queixar.

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Na sua terra natal, Sthabiso é feliz.

Feridas abertas e esperança: a realidade da Igreja na África do Sul

A Diocese de Eshowe alberga cerca de 2,8 % da população da região. Fundada em 1921, registou um crescimento constante de católicos até aos anos 80, altura em que os números começaram a diminuir.

"Há muitos factores que contribuem para isso. O mais importante, suponho, é a instabilidade política da época, cujo fedor ainda perdura na sociedade atual".

Com a serenidade com que observa o seu país à distância, Sthabiso não esconde a dor que sente em relação à situação atual da Igreja na África do Sul. Atualmente, o cristianismo atravessa uma profunda crise de identidade: o colonialismo deixou feridas abertas e a Igreja Católica é vista por alguns como parte desse passado.

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A selfie com um grupo de colegas.

"A maioria das pessoas sente que o colonialismo lhes roubou a sua identidade e, por isso, culpa a Igreja Católica e outras denominações cristãs. Isto deu origem a uma forte presença de políticas identitárias e culturais que excluem intencionalmente Deus e a Igreja", conta com pesar, mas sem perder a esperança.

Entre a mística e a crise

A isto junta-se a influência do misticismo ocidental, misturado com as religiões ancestrais africanas, e uma profunda crise económica causada, em parte, pela corrupção política. Tudo isto leva a que muitos trabalhem mesmo ao domingo, deixando para trás a vida em comunidade.

"Uma boa lição que podemos aprender com a Europa é respeitar os locais religiosos históricos... As nossas velhas igrejas estão a deteriorar-se. Infelizmente, se as pessoas deixarem de ir à igreja, os templos serão esquecidos... pouco a pouco", lamenta.

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Sthabiso, de batina, posa a sorrir com a sua irmã.

Fé, modéstia e autenticidade: o futuro nas mãos dos jovens

No entanto, há uma centelha de esperança que arde intensamente: a juventude. "A parte mais vibrante da Igreja na África do Sul é, sem dúvida, a juventude", diz ele com convicção.

Longe de se deixarem arrastar pelas ideologias do mundo, muitos jovens procuram razões profundas para acreditar, viver e ter esperança.

"É precisamente por causa da crise de identidade que os jovens estão a investigar em profundidade. E mesmo que muitos mal consigam sobreviver, continuam a ter esperança que Deus lhes dê uma solução".

A maior parte dos fiéis católicos do seu país, sobretudo os jovens, vivem com modéstia, tanto na forma como se apresentam ao mundo como nas suas liturgias. Para este jovem seminarista sul-africano, o futuro da Igreja tem a ver com autenticidade: simplicidade, verdade e fidelidade.

Hoje, numa língua que ainda está a aprender e numa cultura muito diferente da sua, Sthabiso está a dar passos silenciosos mas firmes em direção à ordenação. Está em Espanha há apenas um ano e em breve começará o segundo ano do Bacharelato em Teologia.

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Sthabiso está envolvido no trabalho pastoral da Igreja.

O sonho de voltar a curar com o amor de Cristo

O seu desejo é regressar um dia, como padre, ao coração ferido da sua terra natal. É por isso que cada lição, cada oração, cada esforço tem um destino claro: os homens e mulheres da sua querida Eshowe, sedentos de fé autêntica. "Dou graças a Deus pela minha vocação e desejo de todo o coração responder com todo o meu amor a este chamamento.

Porque, no fim de contas, o coração do pastor mede-se pelas ovelhas feridas que espera encontrar e abraçar com o próprio amor de Cristo.


Marta Santín, jornalista especializado em religião.

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