Num evento realizado em 24 de novembro no Fórum Omnes da Universidade de Villanueva de Madrid, Jacques Philippeum importante autor católico francês, partilhou reflexões profundas sobre a espiritualidade no mundo contemporâneo. Mais de duzentas pessoas mergulharam na questão fundamental: precisamos de Deus? O encontro foi promovido pelo Fundação CARF e o Banco Sabadell.
Para além das suas palestras inspiradoras, Jacques Philippe é aclamado pela sua obra literária sobre a vida espiritual. Com títulos influentes como Liberdade interior, Tempo para Deus y A paternidade espiritual do padrePhilippe oferece-lhe uma visão prática e profunda da fé e da vida interior, guiando inúmeras pessoas para uma relação mais íntima com Deus.
As reflexões de Jacques Philippe sobre a ausência de Deus são comoventes. "Afastar-se de Deus é também afastar-se da fonte da verdade", explica, oferecendo uma perspetiva clara de como esta ausência nos afecta grandemente. É por isso que nos convida a refletir sobre a importância de manter uma ligação viva com Deus, mesmo em momentos de aparente escuridão.
Sublinhando a necessidade de procurar constantemente a presença de Deus e de confiar no seu amor e misericórdia para encontrar esperança nas nossas vidas.
Numa sociedade marcada pela secularização e pela emergência de novas espiritualidades, Jacques Philippe reconhece o fenómeno do individualismo e da solidão que caracteriza o mundo contemporâneo. Constata como cada indivíduo tende a construir as suas próprias crenças e a afastar-se da ideia de uma fé partilhada que une a comunidade como uma única família.
É por isso que Philippe defende uma abertura à comunidade religiosa e à procura partilhada de Deus como fonte de realização espiritual e de ligação humana.
Jacques Philippe defende a necessidade de Deus e da sua misericórdia num mundo cada vez mais marcado pelo individualismo e pelo ateísmo. Aponta a mentira do ateísmo e usa a parábola do filho pródigo para ilustrar como, uma vez que Deus é rejeitado, a possibilidade de encontrar misericórdia e perdão é eliminada. Philippe descreve como a ausência de Deus deixa o homem sozinho com o peso dos seus erros, sem a possibilidade de receber o perdão que só Deus pode conceder.
Neste contexto, salienta a importância de regressar a Deus e de encontrar a graça e a misericórdia que só Ele pode oferecer, sublinhando a importância de regressar ao Evangelho e de redescobrir a paternidade divina como antídoto contra o orgulho humano e a perda de sentido.
Philippe aborda o complexo exercício da liberdade humana na ausência da presença e do amor de Deus como Pai. Salientando que, sem esta orientação divina, podemos cair em dois extremos: a irresponsabilidade total, onde tudo é permitido e não se assume qualquer responsabilidade pelos actos; ou a sobre-responsabilidade, carregando o peso da vida e das decisões de forma solitária e angustiante. Salientando a tendência da sociedade atual para estes extremos, onde a imensa liberdade coexiste com a falta de orientação espiritual e de verdade objetiva.
Sublinha a importância do papel de Deus como Pai, não para restringir a liberdade, mas para nos ajudar a discernir e a exercer a nossa liberdade de forma a beneficiarmo-nos a nós próprios e aos outros. Deus oferece-nos uma luz no meio da incerteza e da solidão que caracterizam o mundo contemporâneo.
Seguinte, Jacques Philippe convida-nos a refletir sobre a importância da esperança do Reino como uma perspetiva transformadora da vida quotidiana. Sublinha como viver sem a certeza da vida eterna pode fazer com que a existência se torne apertada e pesada, com a sensação de que cada oportunidade perdida é irrecuperável.
Philippe sublinha que a esperança do Reino oferece um horizonte infinito de possibilidades e de liberdade, mesmo no meio das responsabilidades e dos desafios da vida. Utiliza o exemplo do bom ladrão na crucificação de Jesus para ilustrar como até a vida mais infrutífera pode ser transformada em êxito com a esperança do Reino e a misericórdia de Deus. Porque a qualquer momento Deus pode trazer a salvação e a renovação àqueles que confiam na sua misericórdia.
A importância do perdão num mundo sem Deus
Jacques Philippe mostra como viver num mundo sem Deus e sem misericórdia pode levar a um sofrimento e a uma dureza generalizados nas relações humanas. Sublinha como a falta de fé impede o perdão, pois o mal recebido é visto como irremediável.
Discute o facto de a fé na misericórdia de Deus ser fundamental para tornar o perdão possível, uma vez que proporciona a esperança de cura e salvação tanto para o mal que foi feito como para o mal que foi sofrido. E alerta-nos para o risco de nos endurecermos contra os outros quando tiramos Deus da equação, o que pode levar à raiva e à falta de paz interior.
Uma vida de sucesso não se define por bens materiais, mas por glorificar a misericórdia e o amor de Deus, o que é sempre possível com fé no Seu poder transformador.
Um dos desafios mais significativos do mundo atual é a dificuldade em aceitarmo-nos a nós próprios. Philippe sublinha que o olhar amoroso de Deus sobre nós é fundamental para a nossa auto-aceitação. Ao abraçarmos a nossa fragilidade e aceitarmos o Seu amor, encontramos a liberdade de nos amarmos a nós próprios e aos outros.
Jacques Philippe recorda-nos que, no meio das lutas interiores do mundo moderno, a presença de Deus e o seu amor misericordioso são o nosso maior conforto e esperança. Ao acolhermos Deus nos nossos corações, encontramos a confiança e a alegria que vêm do seu amor eterno.
Com estas palavras, Jacques Philippe dá-nos uma luz de esperança em tempos de incerteza, lembrando-nos que, mesmo nos momentos mais sombrios, Deus está presente e que o seu amor e a sua misericórdia infinita nunca nos abandonam.