Fundação CARF

26 de abril, 20

Artigos de Especialistas

As surpresas de Deus

Antonio R. Rubio Plo fala sobre como a Providência e Deus sempre nos surpreendeu.

A religião das surpresas

Muitos cristãos são sobrecarregados pelos contratempos da vida e por acontecimentos imprevistos. Situações como as experimentadas na quarentena prolongada de uma pandemia pesam naturalmente sobre elas. Em geral, temos tendência a ficar muito nervosos, mesmo que seja apenas porque as coisas não correram como esperado durante o dia. Estamos a esquecer que o Cristianismo é a religião das surpresas, como o Papa Francisco está habituado a dizer. Não é uma religião fatalista, onde tudo é determinado e só pode acontecer de uma certa maneira. Deus é providente, Ele sabe melhor do que nós o que é bom para nós, e de vez em quando Ele entra na rotina das nossas vidas e transforma-as. Isto não é novidade. Isto aconteceu no Antigo Testamento e continua a acontecer no Novo Testamento. O Deus da salvação é o Deus das surpresas.

O exemplo de Moisés

Moisés, um pastor que fez uma vida para si próprio, para a sua esposa e filhos, depois de ter fugido do Egipto há anos atrás, fica surpreendido ao descobrir que Deus o escolheu para salvar o seu povo. Como é que ele se vai apresentar ao Faraó se sabe antecipadamente que a resposta será negativa ao seu pedido de permitir que o povo de Israel saia? Porque é que o seu povo deveria aceitar que ele foi chamado para o conduzir a uma nova terra? Estes são argumentos para dizer não a Deus, para se assustar com a surpresa de uma escolha incompreensível. E tudo começou porque Moisés tinha subido a montanha quando observou o estranho fenómeno de um arbusto arder sem ser consumido (Ex 3, 6). Um cristão deve também ter os seus olhos e ouvidos bem abertos, acima da saturação de imagens que nos assaltam diariamente, para ver o que Deus quer dele. O Espírito Santo está a semear a nossa caminhada diária com preocupações e inspirações. Ouçamo-lo, mas tenhamos em mente que ouvi-lo significa estar aberto à surpresa.

O exemplo de Samuel 

O profeta Samuel é também um homem surpreendido. Ele vai secretamente para Belém para ungir um dos filhos de Jessé como rei de Israel (1 Sam 16:1-13). No início, ele é guiado pelas aparências físicas, a aparência exterior dos jovens, mas Deus surpreende-o ao escolher o rapaz mais novo, David, um pastor que não estava em casa na altura. A surpresa foi para Samuel, mas também para David. É impressionante que o jovem não impeça a sua unção. Ele simplesmente permite que isso seja feito. Ele confia no profeta enviado por Deus, e Deus irá recompensá-lo fazendo do Messias seu descendente. Também nós não devemos colocar obstáculos no nosso caminho e aceitar a visão de Deus, mesmo naquelas coisas que não nos parecem lógicas e que teríamos feito de outra forma. Primeiro, surpresa, mas depois aceitação, confiança num Deus que é primeiro e acima de tudo um Pai.

O exemplo de Paul

No Novo Testamento, Paulo é outra grande surpresa de Deus. Ele não tem sido um discípulo de Cristo, mas um perseguidor feroz, um daqueles que pensavam estar a prestar um serviço ao Senhor perseguindo os cristãos, desviando-se da ortodoxia farisaica em que ele tinha sido educado. Mais uma vez a surpresa divina, desta vez no caminho para Damasco. A resposta do perseguidor é: Senhor, o que queres que eu faça (Actos 9:6). Mais uma vez a docilidade, a vida anterior é deixada para trás. Não há retorno porque foi escolhida uma vida melhor, mesmo que o caminho a percorrer possa ser estreito.

Primeiro, surpresa, mas depois aceitação, confiança num Deus que é primeiro e acima de tudo um Pai.

A surpresa mais inesperada de Deus

Caso contrário, Jesus é a surpresa mais inesperada de Deus. Ele foi uma surpresa para os judeus, que esperavam um guerreiro e Messias vitorioso, pois ele nasceu numa manjedoura e morreu numa cruz. Jesus continua a ser uma surpresa para as pessoas de todos os tempos, porque as suas palavras vão para além das categorias e dos valores deste mundo. Ele próprio enche a sua vida pública de surpresas. Ele surpreende a mulher samaritana quando pára para falar com ela mesmo sendo judeu (Jo 4:9), ele surpreende Zaqueu quando pede para ficar em sua casa (Lc 19:5) e também surpreende o jovem rico quando lhe diz para o seguir e renunciar aos seus bens (Mc 10:21). A surpresa exige a resposta da docilidade, mas no caso daquele jovem vemos que ele não aceitou a surpresa e saiu em grande aflição porque tinha muitos bens.

O Papa Francisco lembra-nos de manter os nossos corações abertos às surpresas de Deus. O mais surpreendente de tudo é a ressurreição de Jesus. Aqueles que o aceitaram melhor foram as mulheres que correram para anunciá-lo aos discípulos (Mt 28:8), mas aqueles homens, que tinham gozado da intimidade do Mestre, não queriam receber a surpresa. Tal foi o caso de Tomé, mas, como disse o pontífice na Páscoa de 2018, o Senhor também tem paciência com aqueles que não vão tão depressa. Ele é paciente com todos e cada um de nós.

Antonio R. Rubio Plo
Licenciado em História e Direito
Escritor e analista internacional
@blogculturayfe / @arubioplo

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